16 de dezembro de 2015

Planejamento - Capítulo 3

Estimados Tricolores,


Nos últimos tempos a sociedade mundial tem se dedicado a um tema muito importante: a transparência financeira. Essa transparência gera uma exigência: responsabilidade fiscal. A responsabilidade fiscal é cobrada em todos os segmentos, quer sejam corporativos, esportivos ou sociais. E para garantir isso surgiu uma prática chamada Governança Corporativa. Mas o que a Governança estabelece? Um conjunto de regras que se seguidas garantem a transparência administrativa e a correção nos reportes. Simples e resumido.

De alguma maneira isso se confunde com a internacionalização das marcas e com a necessidade de se criar um sistema compreendido em todo lugar. Como saber se é seguro investir numa empresa? Vale a pena trabalhar aqui ou ali? Vale a pena comprar de alguém? E vender? Vai pagar a dívida? Vai entregar o produto? E obviamente derivado desse conjunto de regras, surge a necessidade de uma auditoria e controle das ações dos gestores. E essa auditoria e controle gera benefícios e malefícios. Elogios e punições. Mas quem está no sistema sabe bem como funciona.

No futebol vivemos uma fase embrionária do que já é visto nas empresas. As novas leis e exigências fazem com que os clubes precisem investir nisso. Termos como Profut e Fair Play Financeiro passaram  a fazer parte do vocabulário dos clubes e se engana o torcedor que acha que isso não importa, que isso é coisa de mauricinho de empresa, executivo que não entende de futebol. Se engana quem pensa que só o que importa é o resultado do campo. Errado. Exigir seriedade dos gestores no controle das despesas e receitas é o mínimo que se espera de qualquer pessoa de bom senso. Isso gera benefícios dentro do campo e a partir de 2016 será considerado inclusive como parte do regulamento das competições sujeitando seus infratores a punições que chegam até mesmo ao temido rebaixamento de divisão.

E como um gancho nesse assunto, um dos maiores elogios dos que apoiam a atual gestão é exatamente a parte administrativa. O foco em pagar as contas, acertar e negociar as dívidas, tirar certidões negativas. Entre erros e acertos sempre foi ressaltada a importância disso para o clube e como estavam sendo implementadas medidas de controle. Mesmo com tantas críticas, é justo que demos esse reconhecimento.

No entanto, mesmo com esse foco, já no início do ano se apresentou um orçamento para o ano de 2015 com uma previsão de fechamento negativo, cerca de 45 milhões de reais. Essa previsão não considerava a venda de jogadores e isso inclusive foi dito na reunião do Conselho Deliberativo como um fator que geraria a necessidade de venda de jovens talentos. Dessa maneira se esperava equilibrar o caixa e fechar o ano no azul.

Discordamos muito da aprovação desse orçamento mesmo considerando a saída da UNIMED e toda dificuldade enfrentada por pendências passadas, discussões na justiça, receita federal, etc. Mesmo reconhecendo que o clube agiu em teoria de maneira transparente, achamos que o Conselho cometeu um erro grande ao aprovar esse orçamento por dar um cheque em branco para gastos que sem controle, poderiam gerar sérios problemas futuros.

E agora nossa preocupação se confirmou. Todos acabamos de saber que será pedido um aumento desse negativo. Não sabemos nem como chamar isso, já que suplementação orçamentária normalmente se pede quando se consegue uma receita extra e se quer investir essa receita. No caso do Fluminense a questão é diferente. Se pede um “suplemento” de algo que já se gastou. E ao invés de fechar no azul ou pelo menos com o negativo aprovado anteriormente (que já era demasiado), o clube fechará num valor absurdo de mais de 80 milhões negativos. E tudo isso já gasto. Como assim?

Analisando os gastos fica claro que duas rubricas impactaram o negativo: gastos com o futebol e com estádio. A questão do estádio já foi discutida em vários fóruns. Discordamos do acordo assinado e da falta de transparência desse contrato mas isso já foi tema de questionamento em outros textos e pelos conselheiros independentes.

Já com relação ao futebol fica claro que houve falhas sérias em seu planejamento, com contratações e demissões de treinadores, contratações e dispensas de jogadores, contratação de jogadores de alto salário e pouco benefício esportivo e tudo isso gerou um impacto absurdo nas contas. Houve outros gastos importantes mas o futebol é nosso carro chefe e consequentemente o que mais impactou os resultados. O que fica claro é que faltou no mínimo planejamento de gastos em função das receitas. E isso sem esquecer que vendemos 3 promessas e por bons valores. O que se fez com esses valores? Aonde foram gastos?

O mais impressionante é que se percebe que houve aumento nas receitas, apesar de não ter sido por novas fontes geradas como fruto de um trabalho de crescimento do clube e sim basicamente por vendas de jogadores. Mas se gastou muito mal o que se faturou. E o mais grave nem foi gastar. Foi gastar e avisar depois. Isso conflita com toda teoria de responsabilidade fiscal e com qualquer boa prática de Governança Corporativa. E infelizmente os conselheiros e sócios do clube vivem um estado de letargia tão grande e profundo que somente poucos estão questionando ou se indignando com isso. Aonde está aquele Fluminense que ganhou a Taça Olímpica por ser um exemplo de gestão?

Se ainda tivéssemos todos esses gastos mas pelo menos no campo tivéssemos ganho títulos, garantido a classificação para Libertadores ou tivéssemos tido benefícios esportivos claros, mesmo sendo absurdo, ainda poderíamos tentar entender. Mas com os resultados alcançados todos os tricolores deveriam se indignar e cobrar detalhes dessa perda financeira. Isso certamente trará impactos para os próximos anos e quem pagará a conta seremos nós torcedores, pois a capacidade de investimento do clube ficará cada vez menor e voltamos a época de vender o almoço para comer no jantar.

Numa empresa séria isso geraria punições. E no Fluminense? Alguém será punido? Até o momento o que vemos é mais um ciclo de planejamento de futebol começar errado com contratação de mais uma aposta desconhecida e dispensas de talentos da base. Se o clube está no negativo e com tantos problemas de gastos, para que investir em apostas que não funcionaram em outros times? Para que gastar 500 mil reais por ano com uma aposta? Porque não aproveitar o excelente trabalho de Xerém e dar oportunidade aos jogadores de lá? Só para o meio de campo temos Rafinha, Douglas, Marlon Freitas, Higor, Robert e Eduardo. São piores do que o Felipe Amorim? Pode um clube com dificuldades abrir mão de um atacante de velocidade, coisa rara no atual futebol e já com mais maturidade e experiência como o Biro-Biro?

Enfim, são atitudes como essa que ficam sem resposta e somente demonstram a incapacidade do nosso planejamento de futebol. Para quem defende 2015, o orçamento mostra que dinheiro não faltou. O investimento foi feito e tivemos uma folha de primeira divisão. Mas sem resultados. Dava para fazer mais com esse dinheiro. Porque não foi feito? Talvez seja hora de mudanças. Contratar pessoas que entendam e que possam realmente montar um time do tamanho do Fluminense mas dentro das suas condições financeiras. Essas pessoas existem. Dentro e fora do clube. Basta querer.


Esperança Tricolor

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